Sempre Schlink, parece até que virou uma ideia fixa… Só ele mesmo para dizer várias coisas que eu precisava refletir, em um único livro.
“Então desisti novamente de contar as coisas. Não é preciso contar, porque a verdade do que se conta está no modo como se é.”
Pensar sobre isso me fez perceber que aquele conceito de que as pessoas são complicadas (leia-se: eu sou complicada), na verdade, não tem fundamento. Não somos complicados, mas um resultado de diferentes experiências. Sim, o outro faz parte de nossas vidas por um tempo e deixa marcas “Se de tudo fica um pouco, mas por que não ficaria um pouco de mim?”, como diz o sábio Drummond em “Resíduos”.
Podemos, simplesmente, ignorar essa complexidade (e não complicação) nossa e dos outros, como diria um velho (des)conhecido: “sublimar” tudo. Podemos também ter o atrevimento e a presunção de desvendar essa complexidade e depois não saber o que fazer com ela (síndrome de Madre Tereza de Calcutá), logo que as pessoas não são peças de LEGO, para serem remontadas a nosso bel prazer. Podemos ainda optar por ver tudo da “janelinha” da vida, ou seja, abster-se do prazer de descobrir e sentir certas situações complexas, com a vantagem (?) de também não sofrer em decorrência delas.
Ter um visão contábil do prazer e da dor não ajuda em nada, eu sei. Porém, impossível não contabilizar o tempo de prazer e a eternidade de dor (isso mesmo, pois ela sempre advém!), de boa parte das situações de nossas vidas.
Pesquisando sobre esse tema, deparei-me com um princípio de São Tomás de Aquino que diz que a razão por si só, tem por princípio a sua interrupção, de vez em quando, por meio do prazer. Sendo assim, o prazer é o princípio para o alimento da razão, quando esta volta a atuar… Bom, quem sou eu para discutir sobre esse princípio, porém será que o desejo está na categoria desse prazer que interrompe e abastece a razão? Se estiver, então encontros casuais, momentos de “fazer bem” e viver o “agora” estão liberados, logo que proporcionam o retorno à razão? Ou são simplesmente justificativas vazias para dar vazão ao instinto e ao desejo, sem medir consequências? Esses momentos de interrupção então não consideram a complexidade dos seres envolvidos, é isso?
Também penso no desperdício de se abster do prazer e da dor, logo que existem tantas outras pessoas, com impedimentos biológicos que não conseguem sentir nada. No primeiro caso seria uma opção (fuga/resistência/máscara ou o nome que quiser dar… :)); no segundo, uma contingência que causa outro tipo de dor: a dor de não sentir dor, nem nada. Mesmo de longe, pude ver um pouco de um caso assim e dizer que não é nada fácil, é muito pouco.
Todos os manuais de autoajuda ou mensagens de otimismo da internet (principalmente nesse período de espírito de Natal e promessas para o novo ano) caem no seguinte lugar-comum: “Viva a vida intensamente! Ame, viva e seja feliz! Melhor amar e sofrer, a nunca ter amado verdadeiramente! Entregue-se, jogue-se no amor, etc”. Bom, nem preciso continuar, para que entendam do que eu estou falando.
Muitas perguntas e nenhuma resposta. Reflexo de um dilema que não deveria ter sido instaurado. O que é do dever frente ao querer/desejar? O querer mostra-se sempre muito independente, quando ele precisa ficar quietinho num canto, até se acalmar e sumir. Estranho isso, porque o dever deveria sempre ser o mais forte (ou não? :)).
Qual a sua opinião sobre isso, caríssimo leitor? Abster-se do prazer e da dor é o caminho para ver a vida pela “janelinha” e não sofrer mais, e sempre, e tanto?
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